Carnaval 2003
Data do desfile: 02/03/2003 - Domingo. Local: Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Ordem de desfile: 1ª Agremiação a desfilar. Colocação: 14ª Colocada do Grupo Especial com 371 pontos. Presidente: Moysés Antônio Coutinho Filho (Zezo) Carnavalesco: Comissão de Carnaval.

Introdução:
Rindo, chorando, vibrando ou sofrendo, os cidadãos comprimiram-se numa praça de Atenas, cidade mais importante da Grécia, no séc. V a.C. Inesperadamente, Téspis, um homem estranho, vestindo túnica e usando tosca máscara sobre o rosto, ousou imitar deuses e homens. - "Eu sou Dionísio!". Diante da surpresa dos atenienses, pela primeira vez esse grego arrogante se fez aceitar como deus de carne e osso. E foi o começo de uma aventura que atravessaria os séculos, mesclando verdades e fantasias, risos e lágrimas: o nascimento do teatro.
DAS FESTAS DIONÍSICAS AO TEATRO
Atribui-se aos gregos a origem do teatro.
Entretanto, sua forma mais rudimentar remonta das primeiras sociedades primitivas, onde se acreditava no uso de danças e rituais que dominassem fenômenos da natureza e garantissem a sobrevivência humana. Com o desenvolvimento do conhecimento do homem em relação a esses fenômenos, o teatro passou a ser o lugar de representação de lendas relacionadas aos deuses e heróis.
Na Grécia Antiga, em honra a Dionísio (Baco para os latinos) - deus do vinho, da alegria e do entusiasmo, eram realizadas grandes festas, nas quais as pessoas contavam e narravam em coro poesias chamadas DITIRAMBOS. Nessas festas, conhecidas como DIONÍSIAS, surgiu o primeiro traço do teatro: um dos participantes do coro se desligou e disse ser um deus, e não ele mesmo, e assim começou a dialogar com o coro, surgindo os primeiros atores. Foi dado o passo pioneiro para as peças de teatro escritas. As peças teatrais passaram a ser representadas em espaços especiais, semelhantes aos teatros de hoje. Eram os teatros de arena - construções em forma de meia-lua, dotados de arquibancadas.
Existiam dois tipos de peças teatrais: as tragédias e as comédias. As tragédias eram a expressão desesperada do homem, que lutava contra todas as adversidades, mas não conseguia evitar a desgraça. Os autores trágicos mais famosos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. As comédias eram histórias engraçadas, gozações, e sátiras da vida. Tiveram origem nas procissões que os camponeses realizavam pelas aldeias, após a colheita das uvas. Um grande autor de comédia foi Aristófanes. Nas encenações gregas, apenas os homens podiam atuar, pois as mulheres não eram consideradas cidadãs. Por isso, usava-se grandes máscaras. Na Antigüidade Grega, o teatro apresentou uma das mais altas formas de cultura e deixou um importante legado para a humanidade.
Suas criações, além de terem sobrevivido aos séculos, são, ainda hoje, atuais e atuantes. Antigas peças como "Édipo Rei" e "Prometeu Acorrentado" são encenadas até os nossos dias. O teatro grego, pela sua grandiosidade inigualável, serviu de modelo a teatros do mundo inteiro em suas épocas de maior esplendor.
UMA FANTÁSTICA VISÃO DO MUNDO
Durante muitos séculos, o mundo passou por inúmeras mudanças, guerras e invasões que interromperam o crescimento das Artes. Com o advento do Cristianismo, o teatro não encontrou apoio de patrocinadores, sendo considerado pagão. Dessa forma, as representações teatrais foram totalmente extintas.
O renascimento se deu, paradoxalmente, através da própria Igreja, na Era Medieval, e foi utilizado como veículo de propagação de conteúdos bíblicos. Com o intuito de influenciar e educar os homens, a Igreja criou fantásticos Anjos do Bem, Anjos do Mal e Cruéis Demônios. Esses personagens tentavam impedir que os homens pecassem.
Enquanto a Igreja monopolizava a educação, cantores e comediantes passaram a atuar nos mesmos círculos. Surgiu, assim, a figura do Menestrel - poeta culto e versátil, especializado em baladas heróicas. Um misto de cantor, dançarino e ator. Os menestréis também sofreram a hostilidade do clero e obrigados a procurar público em feiras e estradas, aumentaram o número de artistas errantes.
O TEATRO DO POVO
Perseguidos pela Igreja, muitos atores, cantores e comediantes se uniram, formando companhias de teatro que iam de cidade em cidade, em busca de novos espectadores. Esses atores e atrizes, chamados de Saltimbancos, percorriam estradas em carroças, transportando os cenários, os figurinos, maquiagem e até a casa.
Também em busca de novos horizontes onde pudesse dar asas à criatividade e ao talento, surgiu a Commedia Dell'Arte. Os Saltimbancos, e a Commedia Dell'Arte popularizaram a trama, as intrigas e as situações, aproveitando máscaras e trajes carnavalescos e os grandes recursos da pantomina. O intérprete tornou-se o mais importante elemento do espetáculo teatral. Seguindo um roteiro básico, o artista tinha liberdade criadora, de acordo com a fantasia do momento.
Personagens como Pierrô, Colombina, Polichinelo, Arlequim e Pantaleão tornaram-se tão famosos que até hoje são objetos de inspiração. Essa trupe de artistas teatrais viajantes deu origem ao circo, que tanto encanta e envolve de mistério e fantasia. Os Saltimbancos e, mais tarde, a Commedia Dell'Arte consagraram e fundamentaram a verdadeira essência da encenação, unindo texto, ator e público, sendo considerados os pontos de partida das diferentes formas de teatro do povo que culminaram no drama Shakesperiano.
O OCIDENTE ENTRA EM CENA
O teatro, pouco a pouco, foi se transformando num trabalho de arte literária. Por todo o mundo viajou e se expandiu, marcando épocas e escrevendo histórias. Magníficas obras e inesquecíveis autores povoaram os palcos do Ocidente. Na Inglaterra, a eclosão do gênio de William Shakespeare foi um acontecimento extraordinário na história universal do teatro. Shakespeare deixou obras de inigualável qualidade e elevou à perfeição a arte cênica.
Como artista, teve o dom de captar, com mestria, as paixões mais turbulentas e os sentimentos mais puros; a mais rica alegria e o mais penoso desespero. Foi magistral o traço dos caracteres com que vestiu seu mundo. Em "Romeu e Julieta", fez a personificação do amor irrealizado. Em "Sonho de uma noite verão", ilustrou a fantasia e o sonho. E "Hamlet", talvez sua maior criação, retratou o dilema do homem de intensa vida espiritual, que buscava sempre a essência das coisas. Depois de Shakespeare, o teatro nunca mais seria o mesmo. Gil Vicente, o fundador do teatro na terra de Camões, agigantou-se espelhando a vida e a alma popular nos tipos mais característicos. Autos como a Barca do Inferno e a Farsa de Inês Pereira têm valor universal.
Na França, Racine e Molière representaram o máximo do teatro clássico. Entretanto, um outro gênero teatral roubou a cena, enchendo de humor e música os espetáculos que passaram em revista os acontecimento do ano. O teatro de revista expunha a burguesia, seus modos e a hipocrisia da sociedade, atraindo grande público. Na Itália, durante o período da Renascença, nasceu um novo tipo de espetáculo, que reviveria, dentro de uma moldura musical, os mitos e lendas da tragédia grega.
Orfeu, obra-prima que atravessou os séculos, rompeu também as fronteiras italianas e levou a ópera a novas terras. A Flauta Mágica, O Casamento de Fígaro e O Califa de Bagdá foram grandiosas óperas que fascinaram o mundo. Ao longo do tempo, muitas formas de teatro surgiram e alcançaram plenitude, pois representar, imitar e recriar a vida parece estar na essência do homem.
O TEATRO NO ORIENTE
Formas maravilhosas de teatro surgiram no Oriente há mais de mil anos. No Japão, o teatro de marionetes, o Nô e o Kabuki cujo tema principal é a natureza, constituem um grande espetáculo pela riqueza de figurinos e maquiagem.
A origem do teatro chinês perde-se na noite dos tempos. Canto, dança, mímica e acrobacias compõem as cenas que apresentam belíssimos figurinos. Uma das formas mais conhecidas desse teatro é a Ópera de Pequim. Na Índia, a expressão corporal, o canto e a dança são muito valorizados. Cada gesto dos atores tem um significado especial para as histórias, que contam, quase sempre, passagens da mitologia indiana. Representam-se ainda príncipes encantados, humildes donzelas, feiticeiros perversos, e toda uma trama de ambições, desejos e cobiças.
O TEATRO NO BRASIL
O teatro brasileiro surgiu quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia (séc. XVI).
Os jesuítas, interessados em catequizar os índios, trouxeram não só a religião católica, mas também uma cultura diferente, em que se incluía a literatura e o teatro. Aliada aos rituais festivos e danças indígenas, a primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram tinha a feição de propaganda político-religiosa. Nessa época, o maior responsável pelo ensino do teatro, bem como pela autoria das peças foi Pe. José de Anchieta.
O período colonial foi conturbado e trouxe profundas modificações sociais causadas pelas invasões holandesas e francesas, que ocasionaram um vazio de dois séculos na atividade teatral. Ressurgindo da escuridão cultural, o teatro encontrou no Rio de Janeiro o seu palco iluminado. Nos dias de espetáculo, as ruas eram percorridas por tocadores de pífaros e tamboretes, que anunciavam a magnífica encenação noturna, ainda que em espaço restrito.
Com a chegada da Família Real, foi necessária a construção de um teatro que pudesse acolher a corte e visitantes estrangeiros: O Real Teatro de São João foi o centro de toda a vida artística, social e política da capital. Hoje esse teatro se chama João Caetano, em homenagem ao primeiro grande ator brasileiro. O teatro nacional só se estabilizou no séc. XIX, quando o Romantismo teve seu início.
Martins Pena foi um dos responsáveis por isso. Através da exploração dos costumes nacionais, constitui-se numa inesgotável fonte para a dramaturgia. Comédias como "O Noviço" e "A Noite de São João" ainda são encenadas com êxito. Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi muito importante para a consolidação do teatro no Brasil. O maior dos poetas românticos, Gonçalves Dias foi também o mais representativo dramaturgo da 2ª metade do séc. XIX. Seu legado teatral foi, do ponto de vista histórico, a mais penetrante crítica do poder português sobre o Brasil. Outro nome importante foi o de Artur Azevedo que, no final do séc. XIX, dominou o cenário teatral brasileiro, além de ter sido um dos responsáveis pela construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado em 1908, e fundador do nosso teatro de revistas e comédias musicadas.
O começo do séc. XX, embora tenha sido o período mais crítico do teatro brasileiro, foi, também, a época da consagração de grandes nomes e de espetáculos. Surgem nesse cenário Procópio Ferreira e Dulcina de Morais entre outros. "Deus lhe Pague", de Joracy Camargo, é considerada a primeira tentativa de teatro social no país e, "O Rei da Vela" leva à cena Oswaldo de Andrade, um dos mais ilustres representantes do Modernismo.
O Teatro de arte conquistou seu espaço a partir da década de 30, quando foi fundado o Teatro do Estudante do Brasil e começaram a se formar grupos para somar recursos destinados à produção de espetáculos. Seu fundador, Paschoal Carlos Magno, instituiu a figura do diretor, extinguiu o ponto e valorizou a equipe de cenógrafos e figurinistas. Sua contribuição ao desenvolvimento do nosso teatro foi inestimável. A formação do grupo Os Comediantes, renovou a estética do palco brasileiro, que teve um impacto surpreendente com a montagem de "Vestido de Noiva", peça que impôs o nome de Nelson Rodrigues como autor que renovaria o teatro nacional. A criação dessas companhias de teatro deu um perfil grandioso à arte da encenação: O Teatro Brasileiro de Comédia levou o público de classe média ao teatro; o teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, delineou a interpretação brasileira, utilizando a linguagem coloquial.
Com a montagem de "Eles não usam black tié", de Gianfrancesco Guarnieri, o grupo obteve o primeiro êxito. O Tablado, liderado por Maria Clara Machado, encantou o público infantil com "Pluft, o fantasminha", "A Bruxinha que era boa", "O Cavalinho Azul", "A Menina e o Vento" e muitas outras. Paralelamente, foram-se organizando associações com o intuito de organizar, controlar e fiscalizar a classe teatral. Uma entidade beneficiente, A Casa dos Artistas, acolhe velhos profissionais de teatro, procurando dar a eles uma vida mais digna, para que possam manter acesa a chama da arte.
Incontáveis personagens engrandeceram e abrilhantaram o nosso teatro. Para não cometer falhas de esquecimento, citamos apenas aqueles cujos nomes iniciaram ou marcaram uma etapa da história do teatro, no Brasil e no mundo.
A RIBALTA DO CARNAVAL
É carnaval! O maior espetáculo teatral do planeta. Em nenhum outro lugar do mundo é possível encontrar um palco tão gigantesco para tantos atores. Depois de meses de trabalho árduo, muito ensaio e dedicação, todos os envolvidos na festa de Momo querem encenar, com talento, os seus papéis. Diante dessa ribalta, deixamos aflorar as mais autênticas emoções e a mais contagiante alegria. Afinal, todos somos artistas nesse mundo encantado.
O imenso público que assiste ao espetacular desfile das escolas de samba interage com os "atores", cantando, dançando e aplaudindo. As baianas, sincronizando movimentos, desenham círculos nos asfaltos com o colorido de suas saias rodadas. O mestre-sala e a porta-bandeira, bailando em harmonia, desempenham triunfantes o papel de apresentadores do pavilhão de sua escola. Os compositores, responsáveis pela criação do hino que anima e dá vida a esse teatro, libertam a melodia do canto e pedem coro à platéia. A velha-guarda composta por personagens fundadores dessa festa magistral, guarda no peito o orgulho de exibir seu talento e a esperança da continuidade da magia do carnaval!
Carnavalescos: Rosele Nicolau, Munir Nicolau, Fernando Alvarez e Cahê Rodrigues.