Carnaval 2022
Axé Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz

Data do desfile: 21/04/2022 - 5ª feira

Local: Sambódromo da Marquês de Sapucaí

Ordem de desfile: 4ª Agremiação a desfilar

Colocação: 14ª Colocada da Série Ouro com 268,1 pontos

Presidente: Moysés Antônio Coutinho Filho (Zezo)

Carnavalesco: Cid Carvalho

Samba-Enredo:

(versão da escola)

Autores: Samir Trindade, Júnior Fionda, Elson Ramires e Rildo Seixas

Intérprete: Roninho

Banzo ê Banzo ê vai embora
Ê saudade grande feito monte santo
Santifica o filho mais um rei do Congo
Meu retinto peito bate em ritmo de bombo
Tenho a força do axé ginga de Catupé
Agbê, gonguê rufam caixas de lembrança
Em São Paulo da esperança
Cor da pele fez lição
Nego véio ensinou
A talhar a... vida
Na coragem e na luta
Dessa gente perseguida

Sonho meu!
De Erê Ganga, Zumbí
Tantas páginas e livros
E miragens pela frente
Sonho meu
Desde cedo aprendi
Que o verbo resistir
Se conjuga no presente

Vencer as feridas (açoite cultural)
Arenas da vida (senzala social)
E ser bem amado (a luta ao fim servil)
Persistir no Brasil
É sangue de Palmares
Nas veias emoção, nos palcos meus altares
Orixá da nação
Espelho a cintilar a arte
Um santo, a cruz da liberdade
A Santa Cruz é liberdade

Preto rei! Preto é rei
Nesse Rio de Oxossi fiz o meu gongá
Preto rei! Preto é rei
Saravá Milton Gonçalves na coroa de Oxalá

Obá obá obára ôôô...
Obá obá obára ôôô...

Ficha Técnica
Presidente Administrativo: Moysés Antonio Coutinho Filho (Zezo)

Vice-Presidente: José Luiz da Silva

Presidente do Conselho Deliberativo: Antônio Carlos Sampaio

Secretário administrativo: Antônio Carlos Branco

Diretor de Carnaval: Ricardo Simpatia

Diretor de Harmonia: Elson Bragança e José de Souza Barros

Carnavalesco: Cid Carvalho

Intérprete: Roninho

Mestre de Bateria: Mestre Riquinho

Rainha da Bateria: Larissa Nicolau

Primeira Porta-Bandeira: Roberta Freitas

Primeiro Mestre-Sala: Muskito

Segunda Porta-Bandeira: Mayara Silva

Segundo Mestre-Sala: José Mauro

Coreógrafos da Comissão de Frente: Marcelo Chocolate e Marcello Moragas

Ala de Compositores: Rogério Freire

Ala das Baianas: Eliane e Antônio Carlos Sampaio

Ala de Passistas: Júnior Carioca

Diretora do Departamento Feminino: Mônica Carmo

Galeria da Velha Guarda: Neuza

Sinopse do enredo
AXÉ, MILTON GONÇALVES!

No Catupé da Santa Cruz.

Hoje a coroa da Acadêmicos de Santa Cruz gira majestosa e carregada de axé. E busca nas entrelinhas do passado as origens da minha história. E assim, abençoada pelo meus ancestrais, resgata minhas raízes de baobá e as entrelaça com as raízes dos cafezais da cidade onde nasci.

Que o seu movimento, feito o mágico rodar de uma baiana, abra os portais do tempo e liberte a magia que transforma o banzo em canto de saudade, reacendendo em minha alma, a infância vivida em Monte Santo, nas Minas gerais. E assim me faça reviver a coroação dos reis de Congo diante do altar enfeitado da Igreja Matriz de São Francisco de Paula, de onde partiam em cortejos que celebravam a realeza preta com a dança do Catupé e os cantos ritmados pelos bombos, caixas de guerra, agbês e gonguês, e que agora desfilam nas ruas das minhas lembranças.

Que sua representatividade, talhada em majestoso ébano, seja o elo de união entre a África de lá e a África de cá, manifestadas na sabedoria dos pretos mais velhos, tão maltratada e desrespeitada no árduo trabalho escravo nas lavouras de café.

Que reluza feito o sol refletindo no mais puro metal e ilumine as trilhas e caminhos que me levaram à são Paulo da esperança e, guie a minha jornada de luta por melhores condições de vida e dignidade, porque ainda carrego em minha essência, a crueldade que marcou o lombo dos ex-escravos no período pós-abolição e que, empurrou os negros das regiões escravistas para as grandes cidades, desnudando os desafios da adaptação determinados pela cor da pele.

Que seja um farol a me orientar nesse mundo novo e desconhecido, mas repleto de velhos preconceitos. E que essa luminosidade me revele, na sala de projeção, aquele lugar mágico que ao apagar as luzes, fazia desaparecer a dolorosa realidade da discriminação e das privações. E não me permita esquecer que ali, onde heróis, soldados, romances, comédias, tudo vinha como um remédio contra a dureza da realidade que me cercava, e que me fazia fantasiar e sonhar que um pedaço de madeira, era uma espada e eu, o próprio rei Artur.

Que seja uma bússola a orientar a minha embarcação por um oceano de palavras e livros, e assim me leve à descobrir mundos que eu não conhecia. Vista-me com a armadura do conhecimento para que eu possa vencer o dragão da ignorância e me libertar dos porões da miséria e da senzala do preconceito. Que a minha fortaleza seja sempre uma livraria para que eu nunca deixe de sonhar, porque a minha história, é a história de um sonhador. E eu quero seguir nessa utopia teimosa que sempre me fez acreditar que havia um outro mundo no qual a vida era muito melhor.

Que acolha, em seu movimento, os bons ventos do destino que mudam livremente de direção e pregam suas peças. E iluminada, como as estrelas que também mudam de lugar no céu, mas não perdem o poder de guiar, acenda as mágicas luzes da ribalta e modifique definitivamente a minha existência, para eu sempre me lembrar da “ Mão do Macaco” abrindo as cortinas que que me fizeram mergulhar no universo dos espetáculos e sentir a arrebatadora experiência de ser um soldado de chocolate ou um sábio preto velho, num piscar de olhos.

Que resplandeça em sua realeza preta, a força dos que não desistem do combate, e seja o meu equilíbrio entre as lutas na arena da vida e a minha vida no Teatro de Arena. Prometo seguir sem Black-Tie, mas com a determinação de Zumbi, o guerreiro de Palmares.

Que ela, cintilante, aqueça meu espírito de bom malandro, tal qual o sol que brilha sobre a Guanabara, porque o Rio teimou em me chamar para um chopp à beira mar. Hoje, confesso que sou um mineiro maneiro, com alma carioca, rubro negro e amante da batucada e sei que esse é o “Grande Momento”. E que, certamente, pelo menos por uma temporada, serei o “Rei do Rio’, e até mesmo, uma “Rainha Diaba”, como símbolo definitivo da inquietação de um negro em movimento constante.

Graças a Deus e aos meus Orixás, eu venci. E aqui não cabe nenhuma arrogância, mas é bem verdade que eu nunca aceitei o “lugar do negro” que a sociedade havia demarcado.

Eu venci como irmão da coragem que sempre fui. E então, “Bem-Amado”, ganhei asas e voei com a magia consagradora que a telinha me permitiu, feito pontos de luz de liberdade.

Hoje, num momento de grande emoção, vejo com muito orgulho duas bandeiras que se unem, marcadas pela negritude. Uma carrega as cores verde e branco da Acadêmicos de Santa Cruz, a outra é bordada com as cores da luta pela igualdade que eu sempre empunhei.

Mas essa história não se encerra aqui, porque as minhas memórias continuarão a ser construídas, enquanto minha obra seguir falando em prol dos negros e de todos os brasileiros ao mesmo tempo.

E assim, será!

Axé!

Cid Carvalho.
Roteiro do Desfile
1º SETOR: MINHAS RAÍZES ANCESTRAIS
COMISSÃO DE FRENTE: A DANÇA DO CATUPÉ E A COROAÇÃO DOS REIS NEGROS
COREÓGRAFOS: MARCELO CHOCOLATE E MARCELO MORAGAS
Traz as lembranças que Milton Gonçalves guardou de Monte Santo - MG, onde nasceu. Coroa os reis negros no Catupé da Santa Cruz.

1º CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: MUSKITO E ROBERTA FREITAS
FANTASIA: NOBRES AFRICANOS - RAÍZES ANCESTRAIS
O casal traz a seu bailado as raízes africanas, em menção à descendência da família de Milton Gonçalves.

1ª ALA: CATADORES DE CAFÉ EM MONTE SANTO
Refere-se ao trabalho da família Gonçalves que dava duro nas lavouras de café, mesmo com o fim da escravidão.

1º CARRO – ABRE-ALAS: RAÍZES ANCESTRAIS
Retrata memórias infantis do homenageado através da coroação dos reis negros, da labuta dos cafezais e de suas raizes africanas, sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário.
COMPOSIÇÕES: PRETAS E PRETOS VELHOS, RAÍZES AFRICANAS

2º SETOR: INFÂNCIA E JUVENTUDE EM SÃO PAULO
2ª ALA: UM TREM PARA SÃO PAULO: ESTAÇÃO DIGNIDADE
Sonhando com melhores condições de vida, os pais de Milton viajam de trem para São Paulo.

3ª ALA: NO VAI E VEM DA VELHA SÃO PAULO, A DURA REALIDADE
A dura realidade da vida dos negros em São Paulo foi dolorosa. Para a mãe, só trabalho de doméstica; o pai tentava arrumar trocados no vai e vem dos armazéns.

4ª ALA: GUARDADOR DE FRUTAS
Diante das dificuldades, Milton começou a trabalhar. Foi guardador de frutas para um português, dono de uma quitanda.

5ª ALA: A DESCOBERTA DO CINEMA
Milton descobriu nos cinemas uma válvula de escape: filmes em preto e branco se tornaram uma paixão para o jovem.

2º CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: JOSÉ MAURO E MAYARA
FANTASIA: OS CINEMAS DO BAIRRO LIBERDADE
Menção aos filmes preferidos de Milton Gonçalves, entre eles os de Charles Chaplin.

6ª ALA: SONHANDO SER O REI ARTHUR
Naquelas salas, Milton tinha a possibilidade de imaginar ser quem ele quisesse, sem sofrer nenhum preconceito por conta da cor da sua pele.

7ª ALA: SENHORAS DO CONHECIMENTO (BAIANAS)
A energia anciã de Nanã, a senhora da sabedoria que acolhe Milton Gonçalves quando ele vai trabalhar numa livraria.

MUSA: NEGA SHOW
FANTASIA: NANÃ
Um conhecimento atemporal de valorização da sabedoria preta.

2º CARRO: NOS LIVROS, O CONHECIMENTO QUE LIBERTA
Milton Gonçalves é coroado pela soberana do conhecimento, a energia anciã, Nanã, e através da leitura muda os rumos de sua vida.
DESTAQUE CENTRAL: ELIANE TY NANÃ
FANTASIA: NANÃ
COMPOSIÇÕES: GUARDIÕES DA SABEDORIA

3º SETOR: O FASCÍNIO COM OS PALCOS
8ª ALA: PEÇA TEATRAL - “A MÃO DO MACACO” – O FASCÍNIO PELOS PALCOS
Milton Gonçalves recebeu o convite para assistir à peça “A Mão do Macaco” e ficou fascinado pelos palcos.

9ª ALA: PEÇA TEATRAL - “O SOLDADO DE CHOCOLATE”
A estreia de Milton Gonçalves nos palcos, em 1956, em “O Soldado de Chocolate’’.

DESTAQUE DE CHÃO: JULIANA PINHO
FANTASIA: A DEMOCRACIA DOS PALCOS
A democracia dos palcos. Ali, como no carnaval, o plebeu se torna nobre e vice-versa, numa grande celebração da arte.

10ª ALA: PEÇA TEATRAL - “O PRINCÍPE E O LENHADOR”
Na carreira de ator teatral, Milton viveu um príncipe em “O Príncipe e o Lenhador”.

RAINHA DA BATERIA: LARISSA NICOLAU
FANTASIA: A RAINHA DOS METALÚRGICOS
A greve dos metalúrgicos, tema principal da peça “Eles Usam Black Tie”.

11ª ALA: “ELES NÃO USAM BLACK-TIE” - METALÚRGICOS (BATERIA)
MESTRE: RIQUINHO
Faz menção à ida de Milton para o Teatro Arena e ao impulso de sua carreira com o sucesso da peça “Eles Não Usam Black Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1957.

CARRO DE SOM
INTÉRPRETE: RONINHO
MUSA: JULIANA RIBEIRO
FANTASIA: DANDARA
Grande guerreira, ajudou o marido - Zumbi dos Palmares - na defesa do quilombo.

12ª ALA: CORTE DE ZUMBI (PASSISTAS)
O cotidiano do Quilombo de Palmares à celebração de igualdade e respeito coletivo.

13ª ALA: “ARENA CONTA ZUMBI”
Musical escrito por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, em 1965: “Arena Conta Zumbi”, mais um grande sucesso do grupo.

14ª ALA: CHAPETUBA FUTEBOL CLUBE
Outro grande sucesso: a peça de Oduvaldo Vianna Filho, que tinha como tema a paixão do brasileiro pelo futebol.

DESTAQUE DE CHÃO: VITÓRIA MAZOLENE
FANTASIA: “ELES NÃO USAM BLACK-TIE”
Na peça de mesmo nome, operários metalúrgicos organizavam uma greve trabalhista.

CORTEJO DE OXUMARÊ, O SENHOR DAS ARTES
No Catupé da Santa Cruz, Oxumarê protege Milton Gonçalves nos palcos da vida.

TRIPÉ: O SENHOR DAS ARTES NÃO USA BLACKTIE
Com Milton Gonçalves coroado por Oxumarê, o senhor das artes, a serpente do arco-íris, o tripé faz menção à carreira teatral do homenageado.

4º SETOR: A BOÊMIA CARIOCA ME ABRAÇOU
15ª ALA: A PAIXÃO PELO FLAMENGO
Com a vinda de Milton Gonçalves no elenco do Teatro Arena para o Rio de Janeiro, conheceu o Maracanã e se apaixonou pelo Flamengo.

16ª ALA: O AMOR PELA MANGUEIRA
Nesse espírito de conhecer a cidade carioca, Milton foi apresentado à Estação Primeira de Mangueira e a paixão foi à primeira vista.

17ª ALA: SORRISOS CONTRA A DITADURA - “AS AVENTURAS DE RIPIÓ LACRAIA”
Atuou em “As Aventuras de Ripió Lacraia’’, de Chico de Assis, em defesa da liberdade artística contra a Ditadura Militar

MUSA: PAULA LACER
FANTASIA: SACERDOTISA DA RAINHA DIABA
Toda a inquietude de Milton Gonçalves ao interpretar um homossexual no filme “A Rainha Diaba”.

18ª ALA: “A RAINHA DIABA” - UMA REVOLUÇÃO ARTÍSTICA
Com “A Rainha Diaba”, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura, em 1974, é reconhecido por seu talento e capacidade de debater temas de relevância estrutural e cultural.

DESTAQUE DE CHÃO: BERNARDO NASCIMENTO FANTASIA: “NATAL”
Filme de 1988, apresenta a biografia de Natalino José do Nascimento, conhecido como Natal da Portela.

DESTAQUE DE CHÃO: VILMA NASCIMENTO
Vilma Nascimento, a eterna Porta-bandeira da Portela, desfila em homenagem a Milton Gonçalves pela sua brilhante interpretação sobre o Natal da Portela, de quem era nora.

19ª ALA: COMPOSITORES
Prestam homenagem ao grande Natal da Portela, um dos maiores nomes do carnaval carioca.

20ª ALA: “IRMÃOS CORAGEM” - UM GARIMPEIRO
O sucesso na TV com a novela “Irmãos Coragem”, na qual, além de fazer parte da direção, interpretou um garimpeiro.

21ª ALA: “O BEM AMADO”: ZELÃO DAS ASAS
Coroado por Oxalá, assim como Zelão das Asas, seu personagem da novela “O Bem Amado” que ganha os céus, sua carreira supera os limites e é reconhecida nacional e internacionalmente.

3º CARRO: OXALÁ E O BEM-AMADO MILTON GONÇALVES
No Catupé da Santa Cruz, Milton Gonçalves é o griô das artes, que voou alto abençoado por Pai Oxalá, rei de todos os orixás.
DESTAQUE CENTRAL: EDMUNDO TY LOGUNEDÉ
FANTASIA: OXALÁ
VELHA GUARDA: A RESISTÊNCIA DE MILTON GONÇALVES COMPOSIÇÕES: A LUZ DE OXALÁ

22ª ALA: OS AMIGOS DE MILTON GONÇALVES CELEBRAM A PAZ
Amigos e fãs celebram a paz e saúdam nosso rei Milton Gonçalves.

Fotos do Desfile

Fotos: RioTur